quinta-feira, 14 de abril de 2011

Mestre Bio - Remanescente do Folguedo do Boi em Pernambuco

Aos 75 anos de idade, Benedito Felix da Silva, o Mestre Bio, é um dos artistas mais simbólicos do folguedo do Boi na atualidade.
Sua história, na brincadeira do Boi, teve inicio ainda na infância quando acompanhava o seu pai, Deodelino Felix da Silva, que participava do famoso, animado e respeitado Boi Misterioso de Afogados (1927), regido pelo Capitão Antônio Pereira. “Meu pai era João Carcundo (personagem dos antigos bois), sempre brincou, a família toda brincava” , expressa, emocionado, o mestre.

Paralelo às alegrias trazidas pelo Boi, o menino de sete anos passou por muitos momentos de tristeza quando um ataque cardíaco levou seu pai. Dois anos mais tarde perderia também sua mãe. Os irmãos mais velhos venderam a casa e ele ficou sem ter onde morar. Durante o tempo em que esteve na rua foi acolhido por mãe Sebastiana ou Dacifica Sancha da Silva, que lhe deu casa, carinho e uma direção religiosa dentro do candomblé. Sobre a tutela de mãe Sebastiana ele estudou, casou e trabalhou durante 28 anos em uma agência bancaria no Recife. Teve dez filhos, que segundo ele, perpetuam a brincadeira do Boi. ”Todos os meus filhos participam do boi, os filhos, os netos, todo mundo”, comenta.

Essa trajetória de força e luta se confirma no vigor apresentado por Mestre Bio durante as apresentações e espetáculos do Boi. Travestido de personagens como Mateus, Bastião, Alecrim e Empata Samba, ele esbanja alegria e simpatia por onde passa. Dono de um sorriso contagiante todos se encantam com sua simplicidade. Seu primeiro personagem no Boi Misterioso foi o Arlecrim (na brincadeira é responsável por colocar água para os cavalos beberem). “Mestre Antônio Pereira era compadre da minha mãe e pediu a ela para eu participar das touradas do boi, que saí todo domingo. E durante o carnaval a gente vinha a pé de Afogados até a Dantas Barreto, cantando numa alegria só.”

Depois de quase 70 anos participando ativamente do folguedo do boi, Mestre Bio fala da saudade que sente dos tempos de criança e de como a cultura do boi mudou. Ele entristece quando lembra de personagens que para a maioria dos bois foram esquecidos. “Eu sinto muita falta daquele tempo!”, afirma emocionado. “Hoje em dia não é todo mundo que sabe brincar de boi. Hoje não se canta mais para o Empata Samba, para a Maria À-toa, chega dá uma tristeza. É uma brincadeira muito bonita, mas tem que saber brincar”, conclui.

Texto & Entrevista: Gláucia Bruce
Fotografia: Adriano Sobral
Fotografia Sonora “COMUNICAÇÃO”

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